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Publicação - Setembro 2023

 

No ano de 1823

 

A primeira página do número 327 do jornal O Diário, de Lisboa, publicado a 2 de agosto de 1903, é ocupada, em boa parte, por um artigo intitulado “Villa de Rio Maior”, ilustrado com gravuras. Na descrição sobre a povoação e freguesia, o redator dá-nos conta de que o respetivo território «é dotado de diversas quintas, algumas de grande merecimento e valor, e também historicas, como por exemplo a do Jogadouro, cuja casa de habitação e capella se acham em ruinas, occasionadas por um pavoroso incendio havido em 18 de janeiro de 1823.»

Deste trágico acontecimento subsistiram até aos dias de hoje evidências, nomeadamente algumas paredes em pedra, há poucos anos enquadradas numa nova construção. Contudo, estas paredes são um limitado testemunho da importância que outrora teve esta propriedade.

No mesmo artigo daquele jornal lemos: «Por alguns vestigios existentes nas ruinas da capella, julga-se ser esta do tempo dos mouros.» Embora a hipótese da exploração dos árabes possa não ser segura, a antiguidade da quinta é certa. Em meados do século XVIII, a pequena capela dedicada a Nossa Senhora da Nazaré é referida na memória paroquial redigida pelo Prior Frei João da Cunha Guedes, e uma provisão do rei D. José, de 3 de julho de 1772, alude ao morgadio, cujo vínculo abrange essa «Irmida da quinta do Jogo Douro, sita na freguezia de Ryo Maior onde herão todas as fazendas» do mesmo. À época, é administrador deste vínculo João Fellis de Brito Pegado, fidalgo da Casa Real, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e Capitão Mor da vila de Óbidos, em representação do seu filho, menor de idade.

No último parágrafo dedicado ao tema, o jornalista do Diário acrescenta ainda que: «O nome d’esta quinta provém de haver em frente da casa de habitação um jogo de bola, cujos paus eram dourados.» A origem da denominação da quinta, jogo de ouro, cuja transformação fonética derivou em jogadoiro ou jogadouro, é atribuída por Pinho Leal, no 8º volume do Portugal Antigo e Moderno, de 1878, a esse jogo praticado pelos mouros, e acrescenta que em escavação realizada 30 anos antes, «appareceram algumas pequenas barras de ouro, em fórma de disco.» Frederico Alves coloca, por outro lado, numa prova de filologia portuguesa feita na Faculdade de Letras em 1936 e descrita no Concelho de Rio Maior, a hipótese do termo derivar de jugada, antigo tributo que recaia sobre algumas culturas agrícolas.

Certo é que esta propriedade, destruída há 200 anos, e a lenda em torno do seu nome despertaram interesse ao longo dos tempos, não faltando referências em diversas publicações, incluindo em vários títulos da imprensa local riomaiorense.

 

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